
É importante lembrar que a maior influência da televisão no comportamento humano é indireta, sutil e cumulativa – não imediata e direta. De forma que a formação do conceito e de atitudes referentes a sexo, uso de drogas, resolução de conflitos, aquisição de hábitos alimentares, constituição da família e outros valores importantes que favorecem o viver em sociedade, de maneira saudável e harmoniosa, quando não feitos pela família, podem estar sendo feitos pela televisão. Diz Strasburger (1999) “toda televisão é televisão com fins educativos. A única questão é: O que ela está ensinando?” A tragédia da televisão é que ela é 90% potencialmente prejudicial para crianças e adolescentes e apenas 10% útil socialmente; quando, na verdade, essas porcentagens deveriam ser invertidas em uma sociedade responsável, visto que a quantidade de violência e sexo casual na televisão está drasticamente fora da proporção com a vida real. Diz Moganstein (1972) “Jamais tanta violência foi mostrada de maneira tão gratificante, para tantas pessoas”. A grande controvérsia, visto que a decisão sobre o que informar pela televisão está nas mãos dos adultos, é que os adultos não compreendem e se recusam a crer que as crianças vêem televisão diferentemente deles próprios. A maioria dos adultos reconhece que a televisão é fantasia, entretenimento e, freqüentemente, irreal. As crianças não são capazes desta discriminação. Porém, esperar que a industria reconheça a conexão entre violência na mídia e a violência na vida real pode ser tão razoável quanto esperar que os executivos das companhias de tabaco admitam que fumar cigarros causa câncer (Centerwall, 1992a, 1992b). Os norte-americanos têm a taxa mais alta de assassinatos que qualquer outra nação do mundo. Entre os jovens o homicídio é a segunda causa de morte, sendo a de número um para os negros. Os adolescentes são responsáveis por 24% dos crimes violentos. Paralelo a este fato, uma criança norte-americana comum terá visto, ao terminar o primeiro grau, mais de 8 mil assassinatos e mais de 100 mil outros atos de violência na TV ( Wartella, Olivarez & Jennings, 1999). Além disso, é sabido que são os EUA que distribuem a maior parte da violência da mídia no mundo todo. Feilitzen (1999) compara a programação americana com a alemã e encontra que a primeira é quatro vezes maior que a segunda.
As opiniões sobre os efeitos da televisão sobre as crianças poderiam ser resumidas em três pontos: os que consideram que os efeitos da violência são devastadores; os que admitem que ela é um espelho da realidade social e uma terceira posição em que tudo é visto como relativo, onde se acredita que a relação que as crianças e adolescentes estabelecem com a televisão depende de sua família, ambiente social, características pessoais, etc. (Merlo-Flores, 1999). Esta autora propõe que a televisão age em dois níveis sobre as crianças. Estes níveis podem se sobrepor e são simultâneos. No primeiro nível, crianças e adolescentes extraem elementos da linguagem, do jeito de vestir, dos temas sociais e de relacionamento para se comunicar, assim construindo uma cultura televisiva. Num segundo nível, os conteúdos dos programas agem como mecanismos compensatórios que se manifestam quando há algum tipo de deficiência, individual ou social. A hipótese da autora é a de que embora as crianças com uma estrutura de personalidade agressiva liberem esta agressividade inicialmente ao assistirem programas violentos, a longo prazo, isto reforçaria suas potencialidades agressivas. Além disso, elas terão aprendido múltiplas formas alternativas de manifestar a agressão e de justificá-las como meio legítimo de alcançar seus objetivos. Pois sejam bons ou maus, heróis ou bandidos, desenho animado, ficção científica ou personagens reais, tudo e todos mostram que a violência é a forma mais rápida, mais eficiente e sem conseqüência para resolver os problemas e alcançar objetivos. Na pesquisa de Merlo-Flores (1999) encontrou-se que a identificação da criança com um personagem da televisão sempre estava presente quando havia problemas nos laços familiares; as crianças com sinais de agressão selecionavam as características violentas de seus personagens e programas favoritos. Oitenta e cinco por cento das crianças da amostra tinham algum tipo de conflito familiar; em contraste, em todos os casos de bons laços familiares, não foi encontrada identificação da criança com personagens da televisão. A identificação é um processo seletivo: ela responde às necessidades pessoais profundas e, portanto, pode-se inferir que a influência aconteça mais em um nível individual. Emoções, necessidades básicas de afeição são satisfeitas sonhando-se acordado em frente à televisão. De forma que a aprendizagem se dá em dois estágios: imitação e identificação. No início ela é feita através da imitação; ao se deparar com necessidades mais profundas, ocorre a identificação.
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